O nadador competitivo apresenta freqüentemente lesões que acometem a articulação do ombro. Estudos epidemiológicos já mostraram que aproximadamente metade dos nadadores já se afastou dos treinamentos por um período de três semanas devido a estas lesões. Estes estudos também evidenciaram que 40% dos nadadores já competiram com dor nesta articulação. A lesão no ombro pode encurtar a carreira do nadador, fazendo com que este abandone as piscinas precocemente.
Muitos são os fatores que favorecem a lesão no ombro dos nadadores. Como principais podemos citar a frouxidão articular, o número de repetições das braçadas, a fadiga muscular e os erros na técnica e no treinamento.
A frouxidão articular é uma característica do nadador. Os atletas apresentam boa flexibilidade, fator importante para uma natação eficiente. Porém, esta flexibilidade pode se tornar prejudicial quando é excessiva, sendo chamada então de instabilidade. O ombro com instabilidade é dolorido, e favorece a ocorrência de lesões nos tendões, bursas e cartilagem articular. Esta é a principal causa de afastamento dos atletas dos treinamentos e competições. A instabilidade pode ser evitada tomando-se cuidado com os exercícios de alongamento, evitando o estiramento excessivo dos ligamentos que estabilizam a articulação. O atleta que apresenta frouxidão articular como característica constitucional deve estar atento. Seu ombro pode tornar-se instável devido aos treinos de alongamentos realizados de forma incorreta. Outra forma de se evitar a instabilidade é manter fortalecidos músculos específicos como o serrátil anterior, subescapular e rotadores laterais.
Outro fator que predispõe o ombro a lesões é a repetição das braçadas e a fadiga muscular. Estima-se que o nadador que treine por volta de 10.000 metros por dia, 6 vezes por semana, durante 10 meses no ano, execute aproximadamente 4 milhões de braçadas. Isto gera uma sobrecarga no ombro, já que 90% da propulsão na natação é realizada pelos braços, com exceção do nado peito onde a pernada assume grande parcela na propulsão. A fadiga muscular faz com que os movimentos do ombro não sejam realizados de forma coordenada, sobrecarregando os tendões e favorecendo a lesão destas estruturas.
A técnica da braçada quando executada de maneira errada também sobrecarrega os ligamentos e tendões do ombro. Cuidados com o posicionamento dos cotovelos, posição de entrada da mão na água e inclinação do tronco devem ser observados. Cabe aos técnicos do atleta a correção destas falhas, prevenindo as lesões e melhorando o desempenho de seus atletas.
O atleta lesionado geralmente é tratado de maneira conservadora. Manter o atleta na água é muito importante, mas requer uma diminuição da metragem nadada e da intensidade do exercício. Medidas terapêuticas como fisioterapia, medicação, alongamento e exercícios específico possibilitam o retorno ao nível competitivo.
O enfoque preventivo da lesão do ombro do nadador é o principal fator a ser abordado. Este enfoque é multidisciplinar, e envolve o técnico, preparador físico, nutricionista, médico e fisioterapeuta. Os cuidados com a flexibilidade, com a técnica da braçada e treinamento podem prevenir as lesões fazendo com que o atleta aumente seu rendimento e sua carreira dentro da natação.
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CONTATO:
Dr. Gustavo Cará Monteiro.
Membro do Comitê de Traumatologia do Esporte da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia.
FONTE NO LINK Centro de Traumatologia Esportiva - SP